sábado, 24 de dezembro de 2011

Comemorar o quê?

Ora ao som: Sinos tocando, canções de celebração ecoando em seus mais diversos arranjos, das mais envolventes às mais repugnantes, risos stacatos de um senhor idoso, anúncios de liquidação para vendas, promoções especiais, passos em ritmo acelerado nos centros comerciais...

Ora à imagem: Luzes piscando, pinheiros decorados com mil firulas, bolas espelhadas de diversas cores, representações de neve, senhores idosos de barba comprida vestindo um agasalho vermelho com um gorro pontudo, pinturas e esculturas de um grupo de pessoas ao redor de um bebê recém-nascido, imagens televisivas daquele mesmo senhor idoso degustando uma suculenta ave numa ceia ou dirigindo um carro novo, brinquedos dos mais diversos tipos e cores em destaques para venda...


Chegou o período do ano que traz a maior lucratividade anual para os centros comerciais...

Chegou o período do ano que mais aumenta e destaca intensamente os contrastes sociais...

Chegou o período do ano em que se deseja ao mundo o que muitas vezes não se encontra: a paz...

Chegou o período do ano em que se pensa quase sempre em consumo, nada mais...

É... chegou o Natal!

Semanas atrás, minha esposa presenciou algo que, ao me relatar, me deixou um tanto pensativo...

Uma criança se encontrava com o seu pai cheia de gravuras e pinturas natalinas que ela havia trazido da escola. O pai, ao ver tantas imagens natalinas, pergunta à filha:

- Filha, você sabe o que se comemora no natal?

A filha fazia uma expressão pensativa, meio que sem saber o que responder... Então o pai tenta ajuda-la:

- No natal se comemora o aniversário de...?

- ...Papai Noel!!! - responde a criança.


Ao ouvir esta história, fiquei um pouco indignado, mas logo pensei: Bom... eu não sei quando nasceu o Papai Noel ou o São Nicolau (nome verdadeiro da figura natalina), mas sei que não foi no dia 25 de dezembro que Jesus Cristo nasceu.


Poucos se preocupam realmente em saber o verdadeiro dia do nascimento de Cristo, mas pesquisadores e estudiosos alegam que pelo clima da época e alguns fatos paralelos do período, Maria e José tiveram o bebê Jesus no final do mês de março. E ainda há a teoria de que (pasmem!) ele tenha nascido especificamente no dia 1º de abril.

1º de abril??? Parece até piada... no Dia da Mentira? ...ou no Dia do Bobo, como é conhecida esta data nos Estados Unidos (April's Fool)...

Bom... não existe provas nem relatos bíblicos que oficializem a data do nascimento de Cristo, mas consideremos o dia 25 de dezembro como data oficial para a celebração deste dia histórico.

(Até porque não vamos querer prejudicar o comércio unificando num mesmo período duas datas de alto consumo comercial, Natal e Páscoa, né? Seria muito prejuízo para eles, tadinhos...)

Quando eu penso em José e Maria viajando com Maria carregando o Salvador deste mundo em seu ventre, existem certos elementos que não se encaixam na minha mente para esta cena.

Havia pinheiros em Israel?

José e Maria viajam num trenó puxado por renas?

Será que nevava naquela noite?

Acho que eu estou confundindo as histórias... Mas não são todas de uma mesma data???

A diferença é que uma é lenda e a outra é fato.

O Papai Noel foi criação de um personagem baseado na vida de Nicolau Taumaturgo, um arcebispo da Turquia no século IV que costumava ajudar secretamente os necessitados colocando sacos de moedas em suas chaminés. Séculos depois, após declarado santo, São Nicolau foi transformado em símbolo natalino na Alemanha. As roupas vermelhas, trenós, casa no polo norte e pinheiros decorados foram criados posteriormente para a visualização fantasiosa do personagem que atrai e encanta milhões de crianças.


Mas eu me pergunto... será que é preciso mesmo um personagem fantasioso para atrair as mentes das crianças para a celebração do nascimento de Cristo?

Será que apenas a história do filho de Deus, que foi enviado ao mundo como um bebezinho para crescer e viver entre nós e nos dar a salvação não é bela (e verdadeira) o bastante para encantar crianças e adultos?

Mas por que duas histórias de naturezas e realidades diferentes? Por que celebrar o aniversário de Cristo numa data já celebrada com outros artifícios e outros motivos???

Esses questionamentos me fazem lembrar do anjo caído que, enquanto ser celeste, tinha nome de luz, mas ao cair, recebeu um nome que significa enganador.

Será que não é melhor para o anjo enganador que o mundo celebre o natal sem de fato celebrar e meditar no nascimento de Cristo?

Será que não é melhor para o anjo enganador que o mundo decore seus ambientes com elementos que diferem por completo daquele dia tão singular?

Será que não é melhor para o anjo enganador que o mundo se delicie num ceia saborosa e recebam muitos presentes para desviar a mente da singeleza e humildade retratada no nascimento do filho do Rei do Universo neste mundo corrompido pelo pecado?

O que você de fato está celebrando hoje? No que você de fato vai pensar enquanto estiver com seus familiares na noite de 24 de dezembro???

Vai comemorar o quê?

Apenas te desejo um Feliz Natal!

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

3 décadas

É engraçado o quanto a sua vida pode mudar, e de fato muda, a cada 10 anos.

Quando fiz 10 anos de idade, era uma criança pura e inocente (diferente de muitas crianças de 10 anos de hoje em dia), me preocupava apenas em me divertir, ter amigos, brincar, assistir TV...

Lembro-me até hoje que ganhei de aniversário o boneco (ou como se diz hoje em dia, “action figure”) do Raphael das Tartarugas Ninjas. Não o tenho mais hoje, mas encontrei o mesmo boneco numa loja de brinquedos na semana passada... Tive até vontade de comprar...

Minha festa de aniversário de 10 anos foi simples. Um bolinho, suco em garrafa pet de refrigerante, alguns amigos mais próximos... Mas pra mim estava ótimo! Não precisava nada mais além daquilo! Talvez mais alguns queridos amigos presentes ali, mas eu estava feliz!

Quando fiz 20 anos de idade, era meio que um “recém-adulto”... E quanta coisa aconteceu de 10 para 20 anos... Vivi a dita complexa fase da adolescência, entreguei a minha vida a DEUS pelo batismo, vivi o meu primeiro namoro, tive que escolher que carreira seguir profissionalmente, aprendi a dirigir, capotei um carro (dando perda total) pela primeira vez, tirei minha carteira de motorista, ganhei um carro novo... Nossa! Muita coisa! Não dá pra contar! Na minha segunda década, passei de menino a homem!

Não me lembro do presente de aniversário que ganhei quando fiz 20 anos, mas lembro-me da primeira festa surpresa que me prepararam. De fato foi surpresa, porque foi uns cinco dias antes da data do meu aniversário. E para conseguirem me surpreender, me pegaram num momento que eu tinha que ir para um compromisso importante (ensaio do grupo vocal que eu participava na época) e começaram a criar situações para que eu me atrasasse e não fosse. Para minha surpresa, foi o pessoal do grupo, juntamente com outras pessoas, que prepararam a festa.

Não foi tão simples como a minha festa de 10 anos, mas ainda assim um bolinho, salgados, refrigerante, balões e, é claro, a presença dos amigos e familiares. Agora imaginem a minha cara de estar irritado por não poder ir ao ensaio e receber a festa surpresa logo em seguida...

Quando fiz 30 anos de idade... bem... na verdade... estou fazendo 30 anos hoje! 31 de outubro de 2011. E mais uma década de vida se passou. O que posso dizer dos últimos 10 anos? Chega a ser engraçado...

De 0 a 10 anos... Fase inocente da brincadeira e diversão.
De 10 a 20 anos... Fase intensa do crescimento e evolução.
De 20 a 30 anos... Fase realista da desconstrução e reconstrução.

Eu poderia muito bem chamar a minha terceira década de vida de fase do “tapa na cara”. Já tomou alguma vez um tapa na cara? Eu acho que o tapa na cara é a maneira mais prática de se medir a resistência emocional de uma pessoa.

Quando se recebe um tapa na cara, a primeira reação, a mais instantânea, pode ser de querer agredir ou até matar quem te deu o tapa, ou de ficar perplexo, extasiado e magoado por quem te deu o tapa. Quando conseguimos passar da primeira reação sem fazer nada, a segunda reação é de acumular raiva da pessoa que te deu o tapa, acumular uma vontade de fazer algo mais humilhante e agressivo do que o tapa que recebeu, ou seja, o ressentimento. Se conseguirmos sobreviver a segunda reação, que é bastante longa, a terceira reação é a de acordar e enxergar a vida com mais clareza do que antes de se tomar o tapa.

De fato, foi o que aconteceu comigo dos 20 aos 30 anos. Tomei um tapa na cara da vida. Minha vida desmoronou para que eu pudesse aprender a reconstruí-la com minhas próprias mãos. A fase da reforma.

O que aconteceu comigo nesta última década? Bom... fiz e conclui a minha faculdade, me formei, comecei a trabalhar, vivi a tristeza do fim do casamento de meus pais, perdi parentes muito queridos, fui a um psicólogo pela primeira vez e me tratei, vivi outros relacionamentos amorosos, fui professor de inglês, fui corista num coro profissional, conheci a mulher da minha vida e casei com ela, me conheci melhor do que eu mesmo podia imaginar, aprendi a conhecer e entender muito mais a natureza humana, fui empregado e desempregado, vendi o meu primeiro carro e estou comprando meu primeiro apartamento...

Quanto a minha festa de aniversário de 30 anos... bem... a data é hoje... mas fui surpreendido, pela segunda vez, depois de 10 anos, neste último sábado com uma festa surpresa preparada pela minha querida esposa!

Dessa vez eu posso dizer... Não foi uma festa simples... fui inicialmente convidado por minha esposa para jogar boliche juntamente com minha cunhada, concunhado e sobrinha... Ao chegar no boliche, para a minha surpresa, estavam me esperando os meus amigos e familiares. Uma festa surpresa com direito a duas pistas de boliche para jogarmos por 3 horas... A galera da igreja, do coral... Minha mãe, avó, irmão, tia, primos, sogros, cunhados, sobrinhos... Enfim! Uma maravilhosa e inesperada maneira de comemorar minha terceira década. Meus 30 anos.

Só mesmo a minha esposa, fruto de muitas das minhas conquistas desta última década, para poder pensar e preparar algo tão especial assim pra mim (TE AMO, amor!).

Agora, o mais importante: agradeço a DEUS por mais esta década de vida! Por ter me dado forças para viver tudo de positivo e negativo que a vida tem me proporcionado. Obrigado, SENHOR!

Bom... não sei o que me aguarda nos próximos 10 anos... Mas quando eu fizer 40, eu conto pra vocês!

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Leve 6 em 1

Música é algo na minha vida que quanto mais eu conheço, mais eu me apaixono. Cada nova melodia, cada nova harmonia, cada novo instrumento, cada nova possibilidade de combinação, cada possibilidade de um novo arranjo... Tudo isso me dá uma sensação de êxtase do mais alto fio de cabelo da minha cabeça até a unha do meu dedão no pé.

Sempre valorizei cada instrumento singularmente, inclusive a voz, e me admirava quando um instrumento era capaz de simular ou imitar o mesmo efeito sonoro de outro instrumento. E quando descobri que a voz era o mais poderoso instrumento para realizar múltiplas simulações sonoras. Aí, de fato, eu me apaixonei completamente pelo uso da voz na música!

Lembro-me como se fosse hoje, quando eu tinha uns oito anos de idade, certa vez que um primo meu, que na época morava em Maceió (hoje mora em Vitória), veio nos visitar. Ele sempre trazia novidades da música gospel internacional e dessa vez havia trazido algo inédito! Uma gravação numa fita cassete de um grupo com 6 vozes masculinas que faziam tudo numa canção. Vocal e instrumental somente com suas 6 vozes. O que veio a ser o melhor vocal de todo o mundo: Take 6.

Me lembro até hoje que nessa fita havia a primeira gravação de “If we ever” e que no final da música, no último acorde, eles elevavam o tom da harmonia num efeito meio “pitch”, de maneira tão rápida, que terminavam com um som de vidro quebrando. Muito interessante e bem criativo! Hoje, quando se apresentam ao vivo, ao invés do vidro, um deles faz o som de um prato de ataque da bateria (acho que é o Mark Kibble).

A partir dali, passei a admirar mais e mais este grupo. Como na época que ouvir falar deles a tecnologia do CD ainda estava começando a ser trazida para o Brasil, eu não tinha como comprar os seus CDs ou até LPs (sem falar que eu ainda era muito criança para isso).

Foi então, quando eu fiz 15 anos, que eu tive a oportunidade de comprar alguns CDs deles. Comecei por dois que o esposo de uma prima minha estava vendendo, já que ele estava se mudando para os EUA e estava se desfazendo de todas as suas coisas. Foi o “Join the band” e o “Brothers”.
Fiquei uns 3 anos só escutando estes dois CDs. Depois comprei o “Take 6 Live” e ganhei de presente o “Greatest Hits”, o “So Much 2 Say” (que foi o segundo CD deles) e o “So Cool”.
Certa vez, passando por uma loja de CDs de Jazz, achei o primeiro CD deles, “Doo Be Doo Wop Bop”, o mesmo que eu havia ouvido gravado em fita cassete quando eu tinha 8 anos. Comprei na hora. Mas alguns anos depois esse CD desapareceu. Não sei se emprestei para alguém, mas nunca mais o encontrei.
Os CDs de natal “He is Christmas” e “We wish you a Merry Christmas” eu nunca conseguia encontrar aqui no Brasil. Então o meu primo, o mesmo que havia me apresentado as músicas do Take 6 pela primeira vez, me mandou uma cópia desses CDs pelo correio.
Depois de conseguir os CDs mais antigos deles, passei a comprar os novos CDs que foram surgindo: “Beautiful World” e “Feels Good”.
O último CD deles “The Standard”, eu ainda não tive a chance de comprar, mas estou na busca.
Mas a minha realização maior se deu neste ano quando pude vê-los cantar ao vivo aqui no Brasil. Já havia perdido umas 3 oportunidades de assisti-los aqui no Brasil. Mas dessa vez não quis perder essa chance de jeito nenhum! Viajei para o Rio de Janeiro e pudesse assistir um dos melhores, senão o melhor show musical da minha vida. Os caras são demais! Dominam e brincam muito com suas vozes! Foi uma experiência única na minha vida que espero viver novamente!
Cada voz mais fantástica que a outra:

Claude McKnight possui uma extensão incrível e uma sonoridade melodiosa tanto no grave quanto no agudo. Um falsete limpíssimo de fazer inveja em qualquer tenor.

Mark Kibble, melhores melismas impossível! Até hoje guardo em minha mente o solo dele em “Within me”.

Joey Kibble puxa a melodia no “lead” como ninguém! Além de trazer muita energia nas músicas.

David Thomas possui uma voz maravilhosa além de belíssimos agudos. Somente neste show eu pude perceber isso de fato quando ele fez um “voz e piano”.

Khristian Dentley é o mais novo do grupo (substituindo o Cedric Dent) mas demonstrou uma tremenda destreza no palco, principalmente em suas performances imitando o Michael Jackson.

Alvin Chea, para mim, é o melhor baixo vocal do mundo. Consegue dar notas extremamente graves com potência e ao mesmo tempo aveludadas.
Ainda de quebra, tive a chance de ouvir um outro cantor que gosto bastante mas nunca o tinha ouvido ao vivo: Ed Motta. Ele deu “uma canja” com o Leonardo Gonçalves (outro músico que admiro muito), acompanhados pelo Samuel Silva ao piano (outro grande músico) na abertura do show!
O melhor foi poder ter a chance de tirar uma foto com os caras, juntamente com minha esposa. Por mais que tenha sido rápido, eles são muito simpáticos e receptivos!
Para quem não conhece o Take 6, recomendo que busque conhecer os trabalhos deles, pois é muito bom!

Quer ouvir uma voz fantástica? Leve 6 em 1! Take 6 in 1! Take 6!

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aquarius

No final da década de 60, no auge do movimento hippie, foi escrito um musical teatral intitulado “Hair”, que foi lançado na Brodway em 1968. Posteriormente, em 1979, foi lançado um filme sobre esta peça.

O musical tratava sobre a paz, no estilo dos hippies, em meio à realidade americana, vivendo o conflito do período da guerra do Vietnã. E uma das canções mais famosas do enredo tinha o título de “Aquarius”.

A canção dizia que quando a Lua estivesse na sétima casa e Júpiter alinhado com Marte, a paz guiaria os planetas e o amor conduziria as estrelas. Então esse seria o surgimento da Era de Aquarius.

“When the moon is in the Seventh House and Jupiter aligns with Mars, then peace will guide the planets and love will steer the stars. This is the dawning of the Age of Aquarius”

Por algumas décadas, muitos acreditaram que ainda veriam chegar a Era de Aquarius ou chamada também de era das águas. Alguns pensaram que seria na virada do milênio, outros ainda creem que esta era ainda está por vir...

Certo dia eu estava parado, dentro do meu carro, fazendo hora e comecei a observar as pessoas que iam e vinham pela rua. Era cedo, entre 8:30h e 9:00h, e boa parte das pessoas que passavam por ali estavam a caminho do seu trabalho.

De repente vejo um mendigo passando por ali, com uma barba comprida que quase chegava à barriga, cabelo grande, blusa rasgada e calças extremamente surradas e folgadas que só não caiam porque estavam amarradas com algum trapo de pano. Ele vinha com um copo d’água na mão e dentre alguns goles que dava, às vezes cuspia a água no chão.

Vendo aquela cena eu pensei: Se eu estivesse fora do carro, provavelmente iria para o outro lado da rua. No entanto, me era confortável estar vendo aquela cena dentro do carro. Me sentia aquém daquilo tudo, como se estivesse assistindo a uma cena de filme que por acaso estava passando na tv.

Foi então que eu me dei conta: estamos vivendo a Era de Aquarius!

Me lembrei que quando eu era pequeno, meu pai tinha alguns aquários em casa. E muitas vezes ele gostava de ir à praia para pegar peixes para colocar no aquário e muitas vezes eu o acompanhava. Tirávamos os peixes de seu habitat natural, sua realidade de vida, o grande e imenso mar, para deixa-los isolados da realidade numa caixa de vidro, um aquário.

Lembrei disso porque eu percebi que estava numa espécie de aquário. Uma caixa de vidro (no caso, também de metal) que me deixava isolado do mundo ali fora. Eu podia ir e vir dentro do meu carro que o que estivesse acontecendo do lado de fora não me valeria de nada, eu seria um mero espectador de uma cena corriqueira da qual eu nem saberia o final, pois já teria seguido adiante.

Mas afinal de contas, não vivemos em tempo integral dentro de um carro.

É verdade! Mas existem outras “caixas de vidro” às quais nos prendemos para nos isolar da realidade do mundo! A televisão ou o computador, por exemplo, por mais que não possamos ficar fisicamente presos a um deles, nossa mente pode e constantemente fica. Atualmente os televisores e os monitores de computador já não possuem mais um formato equivalente a uma caixa de vidro, estão mais para placas de vidro, mas ainda continuam comportando as nossas mentes com precisão.

Quantas vezes queremos apenas saber qual foi a catástrofe do dia, mas não queremos nos envolver nem nos solidarizar? Quantas vezes preferimos mandar um e-mail, um torpedo, ou uma mensagem na rede social do que telefonarmos ou irmos de encontro a um amigo apenas para saber como ele está?

Quantas vezes ligamos para o “Criança Esperança” ou para o “Teleton” ao invés de utilizar o nosso tempo visitando semanalmente ou mensalmente uma creche, um abrigo para crianças ou um asilo?

Antigamente, quando precisávamos pagar alguma conta ou comprar alguma coisa, tínhamos que sair de casa, pegar o carro ou o ônibus, ir até o banco ou a loja, falar com o atendente e realizar o pagamento da conta ou a compra de algo. Hoje podemos fazer isso tudo sem sair de casa. Pelo computador, pelo celular, ou até mesmo pelo telefone convencional.

É mais cômodo, é mais confortável, é mais conveniente... Pra que sair? Pessoas dirigindo estressadas ou lerdas demais, ou atendentes impacientes ou vagarosos demais, ou amigos ou conhecidos querendo invadir sua vida, saber dos seus problemas... E o mais engraçado é que a maioria dessas pessoas: os motoristas, os atendentes, os amigos, os conhecidos, os cidadãos... estressados ou lerdos, intrometidos ou inconvenientes, no final das contas querem a mesma coisa... Voltar para os seus aquários!

É... cada dia que passa estamos vivendo mais e mais a “Era de Aquarius”!

Até onde vamos chegar?

terça-feira, 26 de julho de 2011

Filosofando em Dó Maior

No segundo semestre de 2007, trabalhei como professor de inglês em uma escola, ensinando turmas de 1a à 8a série. Embora muitas vezes o rítmo fosse estressante (afinal eram muitas turmas com uma grande variação de idade e maturidade), muitos desses alunos conquistaram um lugar no meu coração e então continuei mantendo eventual contato com alguns deles via internet.

Certo dia, estava eu navegando pelo Facebook, quando me deparei com uma declaração de uma ex-aluna minha que me intrigou por demais. Ela dizia: "A vida é como um piano. Teclas brancas representam a felicidade e as pretas as angústias. Com o passar do tempo você percebe que as teclas pretas também fazem música. A Última Música!".

Quando li aquilo, como músico, fiquei meio que revoltado. Impulsivamente acabei respondendo que para alguém dizer aquilo, ou nunca tocou um piano, ou não tem a menor idéia de como se toca.

Depois percebi que fui rude na minha resposta, principalmente quando ela respondeu "Cada um interpreta à sua maneira". Então tentei explicar o motivo da minha discordância quanto à citação dela e assim me veio a idéia para esse post.

Para quem não conhece a funcionalidade da "interface" de um piano, as notas brancas representam as sete notas musicais (dó, ré, mi, fá sol, lá e si) nas mais variadas frequências (graves, médias e agudas). Já as notas pretas, fazem as variações de semitons (metade de um tom) entre 5 das 7 notas musicais.

Em todas as tonalidades musicais, o único tom que utiliza somente as teclas brancas em seus acordes básicos é o tom de Dó Maior (C).

Por isso, com base nessa comparação entre notas brancas e pretas, vamos ter que faze-lo Filosofando em Dó Maior.

Toda tonalidade musical normalmente utiliza até 6 acordes fundamentais para compor uma estrutura musical básica sem variação de tom. 3 acordes em tom maior e de 2 à 3 acordes em tom menor.

No caso da tonalidade de Dó Maior, todos esses acordes fundamentais utilizam apenas notas brancas.

Mas... para quem toca ou já tocou piano... Qual a sensação de tocar um acorde que tenha uma ou mais teclas pretas em sua formação, no meio de uma música em Dó Maior? Susto? Supresa? Tensão? Mudança? ... A verdade é que a sonoridade foge daquela linha harmônica contínua formada pelos acordes fundamentais. Ou seja, foge daquela mesma rotina.

Então, filosofando em Dó Maior, as teclas brancas são como os fenômenos cotidianos da vida. O acordar, o deitar, o respirar, se alimentar, se sociabilizar, o ir e vir...

Já as teclas pretas são como as surpresas da vida, sejam elas boas ou ruins! A grandes mudanças que nunca sabemos quando virão ou como serão. O incerto. Muitas vezes o tempero da vida.

Por isso a música é rica! Pode trazer as mais diversas sensações para quem ouve. Se há 7 notas musicais, mais 5 variações tonais, imagine quantos acordes podem ser criados combinando estas notas?? (sabendo-se que um acorde pode ter de 3 à 6 notas diferenciadas em sua composição)

Musica é vida! Música é como a vida! Misteriosa e saborosa... Cativante e instigante... Pode fazer o bem ou o mal... Tudo depende de quem toca!

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Luz, Grafismo e Reflexo

Era uma vez dois grandes amigos, com personalidades distintas, que tinham como hobby fazer reproduções visuais: o Grafismo e o Reflexo.

O Grafismo, com aquela natureza emotiva, um tanto melancólica, gostava de reproduzir imagens de uma maneira mais artística, enaltecendo uma beleza que muitas vezes não era própria do elemento a ser reproduzido.

Já o Reflexo, com toda a sua fleuma, tinha o típico perfil "curto e grosso". Para ele, a imagem que tivesse que ser reproduzida tinha que ser extremamente fiel à original, doa a quem doesse. Não ocultava defeitos, não amenizava nenhuma imperfeição. Era aquilo e pronto!

Um belo dia, estes dois grandes amigos conheceram a mais bela criatura que poderiam imaginar conhecer: a Luz.

Ambos ficaram loucamente apaixonados pela Luz e tentaram conquistá-la de todas as formas. Mas cada um, com seu jeito peculiar, criou um efeito distinto sobre ela.

O Grafismo conseguiu encantar a Luz com seus traços, formas e cores de tal maneira que ela, por conseqüência, conseguiu dar mais brilho e vida ao seu trabalho.

No entanto, o Reflexo não conseguiu ter exatamente o mesmo sucesso. Enquanto ele conseguia expandir o brilho e o fulgor da Luz a todos que estivessem a sua volta, mostrando ao mundo todo o encanto e beleza que ela possuía, a própria Luz não conseguia suportar ver quem ela realmente era com tanta clareza e franqueza.

Há quem diga que a Luz era tímida. Do tipo que gostava de fazer bem aos outros mas não se sentia bem em ser enaltecida.

Indecisa entre esses dois pretendentes, por um período ela namorou com cada um deles para sabe quem seria o grande amor da vida dela. Mas no final ela se viu realmente apaixonada pelo Grafismo e se entregou no seu amor por ele.

Casaram! E pouco depois tiveram uma filha. Filha esta que batizaram com o nome de Fotografia.

Ah... a Fotografia! O tesouro mais precioso do amor entre a Luz e o Grafismo. Crescia a cada dia e se mostrava uma criatura ativa, cheia de vida e atitude.

Assim como seu pai, a Fotografia começou a desenvolver o prazer em criar reproduções visuais. Mas foi aí que começou surgir uma preocupação por parte do Grafismo.

O trabalho da Fotografia não tinha semelhança alguma com o trabalho do seu pai, o Grafismo. Mas instigantemente se assemelhava muito com o trabalho do seu... hã... "tio"!? ... O Reflexo!

A Fotografia acreditava que todos os elementos existentes eram o que eram. Não tinham porque se esconder. Não havia motivos para se julgarem imperfeitos ou terem vergonhas de uma ou outra característica própria.

A Luz, notando a preocupação do seu esposo, começou a auxiliar a Fotografia em seus trabalhos. Lançando o seu brilho sobre os elementos em ângulos estratégicos para que se amenizasse ou até ocultasse as imperfeições que o Grafismo queria que fossem registradas de qualquer maneira.

Isso amenizou bastante o resultado, mas ainda não parecia ser suficiente para o Grafismo. Ele achava o trabalho da Fotografia realista demais e não conseguia lidar bem com a realidade.

A verdade é que o Grafismo começou a "coçar a cabeça" pensando na possibilidade da Fotografia ser filha do Reflexo e não dele. Mas ele não queria deixar transparecer isso jamais e tinha o ímpeto de tentar de alguma forma desvincular a semelhança do trabalho da Fotografia com o do Reflexo.

Pensando nisso, resolveu colocar sua filha para fazer um estágio com um profissional do embelezamento imagético: o Editor.

O Editor era um velho amigo do Grafismo e tinha os princípios muito semelhantes ao dele. O Editor gostava mais de trabalhar com o realismo do que com o abstrato (um pouco diferente de como o Grafismo, às vezes, gostava de atuar), mas repudiava o que era julgado visualmente imperfeito, assim como o pai da Fotografia. Ele gostava de apresentar uma versão visual melhorada ou até mesmo "evoluída" na representação visual de qualquer elemento.

E assim foram trabalhando juntos a Fotografia e o Editor...

Conflitos? Claro que houveram! Duas personalidades tão distintas não poderiam trabalhar juntas sem que houvesse conflitos. O Editor se mostrou com uma natureza vaidosa e algumas vezes até frívola, enquanto a Fotografia possuía uma natureza autêntica, realista e impetuosa. Mas no final, o Editor é que era o chefe e se a Fotografia quisesse continuar trabalhando com ele teria que entender a essência o velho ditado "manda quem pode e obedece quem tem juízo".

O Editor não admitia, mas admirava muito o trabalho da Fotografia. Ele o via como um diamante bruto para poder lapidar, mas não queria admitir isso pois já era muito difícil para ele lidar com a natureza da Fotografia, pior seria se ela soubesse que ele dependia do trabalho dela.

Os trabalhos dessa equipe rendeu muito. Todos queriam ter as versões visuais melhoradas de si mesmo. Mas no entanto sempre era exaustivo para essa equipe alcançar o resultado almejado. Almejado pelo líder, é claro.

Foi então que, alguns anos depois, um novo empregado veio se juntar à equipe: o Recurso Digital.

O Recurso tornou muito mais prático o trabalho da Fotografia com o Editor, aumentando ainda mais o rendimento de ambos na equipe. Tanto para o Editor como para a Fotografia isso foi ótimo. O Recurso era muito prestativo e gentil. Gostava de ajudar a todos e facilitar a vida de cada um ao seu redor.

A Fotografia pouco a pouco foi se vendo encantada com o tamanho altruísmo do Recurso Digital. Desse encanto surgiu a admiração, que junto com uma súbita paixão, tomou o coração da Fotografia, que se encontrou envolta num amor inexplicável por ele.

O Recurso Digital achava a fotografia linda e se admirava com sua personalidade impetuosa e autêntica. A cada dia de convívio, ambos foram se apaixonando cada vez mais, até que resolveram se entregar um ao outro e se casaram.

Esse casamento foi grande realização para todos. Pois agora, a Fotografia passou a ser Fotografia Digital e o seu trabalho junto ao Recurso Digital se tornou cada vez mais precioso para o chefe deles.

O Grafismo adorou o resultado do trabalho da sua filha, junto ao seu genro, sob a supervisão do seu velho amigo Editor, que se mostrou cada vez menos semelhante ao trabalho do Reflexo.

A Luz também ficou feliz pois conseguiu amenizar as suspeitas teorias sobre a paternidade de sua filha.

Já o Reflexo, cada vez mais amargurado com sua solidão e o desprezo alheio por sua natureza, continuou em sua fria sinceridade ao reproduzir as imagens dos elementos a sua volta. Algumas vezes tentava ser menos grosseiro tentando distorcer ou contorcer o seu trabalho, mas às vezes o seu resultado saia pior do que o original.

A verdade é que ninguém sabe se a Fotografia é mesmo filha do Grafismo ou do Reflexo. Só que no final, ela acabou se tornando e ainda tem ser tornado cada vez mais diferente do Reflexo.

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Perfeita Imperfeição

Quando nós sonhamos intensamente com algo para a nossa vida, seja uma mudança de vida, uma atuação ou um bem material, nós queremos que, antes de mais nada, seja "perfeito"!

Já sonhou em ter um carro perfeito? Em ter uma casa perfeita? Em namorar com a mulher perfeita ou com o homem perfeito? Em ter o casamento perfeito? Emprego perfeito?

Dentre muitos exemplos como estes, eu mesmo, como um amante da música e profissional do design, também já sonhei em fazer a música perfeita, o layout perfeito, cantar o solo perfeito, conseguir a diagramação perfeita, fazer a harmonia perfeita, construir o projeto perfeito...

Mas... pra quê tanta perfeição??? ... Reconhecimento? Status? Auto-realização?

Antes de responder qualquer uma dessas perguntas, devemos nos fazer dois questionamentos de maior importância...

Nós sabemos o que é perfeição???

Nós podemos lidar com a perfeição???

As referências evoluem, mudam ou muitas vezes se fundem. E o que parece perfeito hoje, pode ou não deixar de ser perfeito amanhã. E isso nos mostra um fator de maior importância que até mesmo redefine o conceito de perfeição: o objetivo.

De que vale compor a mais bela canção se não houver um propósito para isso? De que vale desenvolver o melhor projeto se eu tiver um objetivo para tal?

De que vale ter o mais perfeito carro se o custo de manutenção for maior do que se pode arcar? De que vale ter a pessoa perfeita na sua vida se você não souber ser a pessoa perfeita para ela?

Não somos perfeitos! Fato! E estamos muito longe disso!

Antes de dizermos o que queremos, devemos refletir bem no "para quê" queremos.

Pensei em escrever esse tema baseado em algo que vivi no último sábado (dia 21/05/2011).

Desde fevereiro deste ano, a igreja a qual freqüento começou a ensaiar um coral evangélico e eu fui solicitado para fazer os testes vocais com todos os inscritos que queriam participar. Eu não queria ser rigoroso na avaliação, mas também não poderia ser negligente quanto a estrutura vocal mínima necessária para se ter o coral.

Avaliei vozes de todos os tipos: Fortes e fracas. Afinadas e desafinadas. Seguras e inseguras. Experientes, inexperientes e alguns até sem experiência alguma sequer.

Se eu fosse escolher as vozes mais perfeitas dali, não teríamos um coral, mas sim um grupinho vocal. Então me perguntei: qual o objetivo deste coral? Louvar a Deus... Unificar os jovens da igreja... Trazer uma atmosfera de louvor mais impetuosa e reverente, que é costumeira do canto em coral...

Então, para ser o mais pragmático possível, adotei os seguintes requisitos mínimos: Caso não tenha prática e experiência em canto coral, se não for atrapalhar os outros coristas e/ou tiver potencial para aprender e evoluir, está dentro!

Pronto! Uma equipe de 28 coristas estava montada. Poucos sabiam ler partitura. Alguns nunca haviam participado de um coral antes. Tínhamos um diamante bruto nas mãos para lapidar. E para isso, fui convidado a participar como corista.

Minha última experiência em canto coral, antes dessa, foi num côro erudito profissional. 42 vozes de músicos profissionais com timbres vocais e técnicas maravilhosas, que sabiam ler partitura naturalmente. Alguns até solfejavam a primeira vista. E eu me sentia o pior de todos ali. Foi uma experiência que expandiu os meus conhecimentos e tendências musicais, assim como minhas referências de repertório. Mas ali era a música pela música. Tentávamos ser perfeitos apenas pela arte e pelo prazer musical!

Mas este coral evangélico não era para ser a música pela arte. Mas a música para o louvor a Deus! Música para o evangelho! Música para transmitir e comunicar a palavra de Deus! Então, começamos a lapidar esse diamante bruto!

Ensaios e mais ensaios cansativos... passando e repassando vozes para quem não conseguiu aprender ou para quem havia se ausentado num ensaio anterior... Naipes com 80% das vozes alinhadas (não necessariamente tão afinadas) e 20% de vozes perdidas atrás das notas... Mas pouco a pouco, lapidando, foi começando a tomar forma e brilho...

Enfim, a primeira apresentação! Dia 21 de maio de 2011... Sábado... Seriam apresentadas 4 músicas naquela manhã... E inventaram de me colocar bem no meio coral, na primeira fileira... Meus ouvidos estavam cercados por todas as vozes... Timbres dos mais variados... Alguns afinados, alguns semitonando, uns fazendo portamento para achar a nota, outros empostando a voz com vibrato para ajudar no volume e na sustentação... Uma "massa" vocal!

E eu estava ali... mal podendo ouvir minha própria voz... meio inseguro... achando que o coral não poderia estar soando bem... Cadê a mesa de som? Não teria como abaixar mais uma voz e valorizar mais a outra? Não! Era um coral! Uma "massa" de vozes! Sem indivíduos! Sem destaques! Mas a união de todas as vozes!

Na última música, tive que fazer o solo e tive que sair do meio do coral. Então eu pude perceber a forma daquela "massa" vocal... Mas como eu também tinha que cantar, não podia prestar tanta atenção na sonoridade do coral sob aquela perspectiva... Só me restava uma alternativa de saber como estávamos: o vídeo!

Deixei minha câmera num tripé no alto da galeria e pedi para uma amiga minha controlar fazendo um zoom e um panorama do coral de vez em quando.

Quando fui  ver e ouvir os vídeos, fiquei surpreso! Aquela "massa" tinha forma e sabor! O coral cantava com emoção! Com o coração! No todo, a música ficou linda, a mensagem foi transmitida e o nome de DEUS foi louvado! Fiquei muito feliz!

Percebi na prática que toda essa mistura resultou numa boa coisa! Junção de vozes experientes e inexperientes... fez-se a massa! Massa boa! Massa feita com amor! Ainda pode ser mais temperada e decorada... mas já dá pra alimentar muitos corações famintos da palavra de DEUS.

Sei que os anjos cantaram conosco naquela manhã... mas o melhor de tudo foi saber que DEUS mais uma vez se provou PERFEITO através da nossa imperfeição!