quinta-feira, 26 de maio de 2011

Perfeita Imperfeição

Quando nós sonhamos intensamente com algo para a nossa vida, seja uma mudança de vida, uma atuação ou um bem material, nós queremos que, antes de mais nada, seja "perfeito"!

Já sonhou em ter um carro perfeito? Em ter uma casa perfeita? Em namorar com a mulher perfeita ou com o homem perfeito? Em ter o casamento perfeito? Emprego perfeito?

Dentre muitos exemplos como estes, eu mesmo, como um amante da música e profissional do design, também já sonhei em fazer a música perfeita, o layout perfeito, cantar o solo perfeito, conseguir a diagramação perfeita, fazer a harmonia perfeita, construir o projeto perfeito...

Mas... pra quê tanta perfeição??? ... Reconhecimento? Status? Auto-realização?

Antes de responder qualquer uma dessas perguntas, devemos nos fazer dois questionamentos de maior importância...

Nós sabemos o que é perfeição???

Nós podemos lidar com a perfeição???

As referências evoluem, mudam ou muitas vezes se fundem. E o que parece perfeito hoje, pode ou não deixar de ser perfeito amanhã. E isso nos mostra um fator de maior importância que até mesmo redefine o conceito de perfeição: o objetivo.

De que vale compor a mais bela canção se não houver um propósito para isso? De que vale desenvolver o melhor projeto se eu tiver um objetivo para tal?

De que vale ter o mais perfeito carro se o custo de manutenção for maior do que se pode arcar? De que vale ter a pessoa perfeita na sua vida se você não souber ser a pessoa perfeita para ela?

Não somos perfeitos! Fato! E estamos muito longe disso!

Antes de dizermos o que queremos, devemos refletir bem no "para quê" queremos.

Pensei em escrever esse tema baseado em algo que vivi no último sábado (dia 21/05/2011).

Desde fevereiro deste ano, a igreja a qual freqüento começou a ensaiar um coral evangélico e eu fui solicitado para fazer os testes vocais com todos os inscritos que queriam participar. Eu não queria ser rigoroso na avaliação, mas também não poderia ser negligente quanto a estrutura vocal mínima necessária para se ter o coral.

Avaliei vozes de todos os tipos: Fortes e fracas. Afinadas e desafinadas. Seguras e inseguras. Experientes, inexperientes e alguns até sem experiência alguma sequer.

Se eu fosse escolher as vozes mais perfeitas dali, não teríamos um coral, mas sim um grupinho vocal. Então me perguntei: qual o objetivo deste coral? Louvar a Deus... Unificar os jovens da igreja... Trazer uma atmosfera de louvor mais impetuosa e reverente, que é costumeira do canto em coral...

Então, para ser o mais pragmático possível, adotei os seguintes requisitos mínimos: Caso não tenha prática e experiência em canto coral, se não for atrapalhar os outros coristas e/ou tiver potencial para aprender e evoluir, está dentro!

Pronto! Uma equipe de 28 coristas estava montada. Poucos sabiam ler partitura. Alguns nunca haviam participado de um coral antes. Tínhamos um diamante bruto nas mãos para lapidar. E para isso, fui convidado a participar como corista.

Minha última experiência em canto coral, antes dessa, foi num côro erudito profissional. 42 vozes de músicos profissionais com timbres vocais e técnicas maravilhosas, que sabiam ler partitura naturalmente. Alguns até solfejavam a primeira vista. E eu me sentia o pior de todos ali. Foi uma experiência que expandiu os meus conhecimentos e tendências musicais, assim como minhas referências de repertório. Mas ali era a música pela música. Tentávamos ser perfeitos apenas pela arte e pelo prazer musical!

Mas este coral evangélico não era para ser a música pela arte. Mas a música para o louvor a Deus! Música para o evangelho! Música para transmitir e comunicar a palavra de Deus! Então, começamos a lapidar esse diamante bruto!

Ensaios e mais ensaios cansativos... passando e repassando vozes para quem não conseguiu aprender ou para quem havia se ausentado num ensaio anterior... Naipes com 80% das vozes alinhadas (não necessariamente tão afinadas) e 20% de vozes perdidas atrás das notas... Mas pouco a pouco, lapidando, foi começando a tomar forma e brilho...

Enfim, a primeira apresentação! Dia 21 de maio de 2011... Sábado... Seriam apresentadas 4 músicas naquela manhã... E inventaram de me colocar bem no meio coral, na primeira fileira... Meus ouvidos estavam cercados por todas as vozes... Timbres dos mais variados... Alguns afinados, alguns semitonando, uns fazendo portamento para achar a nota, outros empostando a voz com vibrato para ajudar no volume e na sustentação... Uma "massa" vocal!

E eu estava ali... mal podendo ouvir minha própria voz... meio inseguro... achando que o coral não poderia estar soando bem... Cadê a mesa de som? Não teria como abaixar mais uma voz e valorizar mais a outra? Não! Era um coral! Uma "massa" de vozes! Sem indivíduos! Sem destaques! Mas a união de todas as vozes!

Na última música, tive que fazer o solo e tive que sair do meio do coral. Então eu pude perceber a forma daquela "massa" vocal... Mas como eu também tinha que cantar, não podia prestar tanta atenção na sonoridade do coral sob aquela perspectiva... Só me restava uma alternativa de saber como estávamos: o vídeo!

Deixei minha câmera num tripé no alto da galeria e pedi para uma amiga minha controlar fazendo um zoom e um panorama do coral de vez em quando.

Quando fui  ver e ouvir os vídeos, fiquei surpreso! Aquela "massa" tinha forma e sabor! O coral cantava com emoção! Com o coração! No todo, a música ficou linda, a mensagem foi transmitida e o nome de DEUS foi louvado! Fiquei muito feliz!

Percebi na prática que toda essa mistura resultou numa boa coisa! Junção de vozes experientes e inexperientes... fez-se a massa! Massa boa! Massa feita com amor! Ainda pode ser mais temperada e decorada... mas já dá pra alimentar muitos corações famintos da palavra de DEUS.

Sei que os anjos cantaram conosco naquela manhã... mas o melhor de tudo foi saber que DEUS mais uma vez se provou PERFEITO através da nossa imperfeição!

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