segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Aquarius

No final da década de 60, no auge do movimento hippie, foi escrito um musical teatral intitulado “Hair”, que foi lançado na Brodway em 1968. Posteriormente, em 1979, foi lançado um filme sobre esta peça.

O musical tratava sobre a paz, no estilo dos hippies, em meio à realidade americana, vivendo o conflito do período da guerra do Vietnã. E uma das canções mais famosas do enredo tinha o título de “Aquarius”.

A canção dizia que quando a Lua estivesse na sétima casa e Júpiter alinhado com Marte, a paz guiaria os planetas e o amor conduziria as estrelas. Então esse seria o surgimento da Era de Aquarius.

“When the moon is in the Seventh House and Jupiter aligns with Mars, then peace will guide the planets and love will steer the stars. This is the dawning of the Age of Aquarius”

Por algumas décadas, muitos acreditaram que ainda veriam chegar a Era de Aquarius ou chamada também de era das águas. Alguns pensaram que seria na virada do milênio, outros ainda creem que esta era ainda está por vir...

Certo dia eu estava parado, dentro do meu carro, fazendo hora e comecei a observar as pessoas que iam e vinham pela rua. Era cedo, entre 8:30h e 9:00h, e boa parte das pessoas que passavam por ali estavam a caminho do seu trabalho.

De repente vejo um mendigo passando por ali, com uma barba comprida que quase chegava à barriga, cabelo grande, blusa rasgada e calças extremamente surradas e folgadas que só não caiam porque estavam amarradas com algum trapo de pano. Ele vinha com um copo d’água na mão e dentre alguns goles que dava, às vezes cuspia a água no chão.

Vendo aquela cena eu pensei: Se eu estivesse fora do carro, provavelmente iria para o outro lado da rua. No entanto, me era confortável estar vendo aquela cena dentro do carro. Me sentia aquém daquilo tudo, como se estivesse assistindo a uma cena de filme que por acaso estava passando na tv.

Foi então que eu me dei conta: estamos vivendo a Era de Aquarius!

Me lembrei que quando eu era pequeno, meu pai tinha alguns aquários em casa. E muitas vezes ele gostava de ir à praia para pegar peixes para colocar no aquário e muitas vezes eu o acompanhava. Tirávamos os peixes de seu habitat natural, sua realidade de vida, o grande e imenso mar, para deixa-los isolados da realidade numa caixa de vidro, um aquário.

Lembrei disso porque eu percebi que estava numa espécie de aquário. Uma caixa de vidro (no caso, também de metal) que me deixava isolado do mundo ali fora. Eu podia ir e vir dentro do meu carro que o que estivesse acontecendo do lado de fora não me valeria de nada, eu seria um mero espectador de uma cena corriqueira da qual eu nem saberia o final, pois já teria seguido adiante.

Mas afinal de contas, não vivemos em tempo integral dentro de um carro.

É verdade! Mas existem outras “caixas de vidro” às quais nos prendemos para nos isolar da realidade do mundo! A televisão ou o computador, por exemplo, por mais que não possamos ficar fisicamente presos a um deles, nossa mente pode e constantemente fica. Atualmente os televisores e os monitores de computador já não possuem mais um formato equivalente a uma caixa de vidro, estão mais para placas de vidro, mas ainda continuam comportando as nossas mentes com precisão.

Quantas vezes queremos apenas saber qual foi a catástrofe do dia, mas não queremos nos envolver nem nos solidarizar? Quantas vezes preferimos mandar um e-mail, um torpedo, ou uma mensagem na rede social do que telefonarmos ou irmos de encontro a um amigo apenas para saber como ele está?

Quantas vezes ligamos para o “Criança Esperança” ou para o “Teleton” ao invés de utilizar o nosso tempo visitando semanalmente ou mensalmente uma creche, um abrigo para crianças ou um asilo?

Antigamente, quando precisávamos pagar alguma conta ou comprar alguma coisa, tínhamos que sair de casa, pegar o carro ou o ônibus, ir até o banco ou a loja, falar com o atendente e realizar o pagamento da conta ou a compra de algo. Hoje podemos fazer isso tudo sem sair de casa. Pelo computador, pelo celular, ou até mesmo pelo telefone convencional.

É mais cômodo, é mais confortável, é mais conveniente... Pra que sair? Pessoas dirigindo estressadas ou lerdas demais, ou atendentes impacientes ou vagarosos demais, ou amigos ou conhecidos querendo invadir sua vida, saber dos seus problemas... E o mais engraçado é que a maioria dessas pessoas: os motoristas, os atendentes, os amigos, os conhecidos, os cidadãos... estressados ou lerdos, intrometidos ou inconvenientes, no final das contas querem a mesma coisa... Voltar para os seus aquários!

É... cada dia que passa estamos vivendo mais e mais a “Era de Aquarius”!

Até onde vamos chegar?

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