terça-feira, 26 de outubro de 2010

Conceitos Difusos


Ser criado num lar cristão é algo que traz muitos benefícios à sua vida. Você cresce com valores e princípios arraigados que são extremamente positivos para o seu desenvolvimento como ser humano e cidadão. Contudo, a constante convivência com pessoas que partilham da mesma fé que você (e consequentemente a maioria dos mesmos princípios) gera um certo "comodismo" em esperar que o outro aja e pense da mesma maneira que você e ainda acha "incorreto" se ele não o fizer.

A realidade sócio-financeira que vivemos hoje, oriunda do capitalismo, nos ensina por A + B algumas regras fundamentais para a nossa própria sobrevivência: "Nada nesta vida é graça!", "Olho por olho, dente por dente!", "Aqui se faz, aqui se paga"... São provérbios e ditos populares que nos levam a pensar de maneira mais egoísta em relação aos outros, muitas vezes para não sermos atropelados por eles. Entretanto, para quem cresce sob a conduta e os princípios de uma vida cristã, existe um conflito em encontrar um equilíbrio entre a realidade terrena e a conduta espiritual.

Na maioria destes casos, há o pensamento (não declarado) de que os princípios cristãos são para a igreja (vida espiritual), para o lar (vida familiar) e para os amigos em geral (vida social). Claro que existem exceções. Alguns mais ao norte, outros mais ao sul... Mas a linha de pensamento em comum entre os cristãos acaba sendo essa mesma. Deixando assim para o princípio capitalista a vida financeira e profissional.

Trazendo à prática, esse conflito entre princípios terrenos e princípios cristãos acaba gerando alguns problemas em certas situações de vida de algumas pessoas.

Vamos imaginar um profissional de qualquer área que presta serviços para uma instituição religiosa. Há quem pense que ele não deveria cobrar nada, já que é para a "obra do Senhor" (normalmente isso ocorre quando ele também é adepto desta mesma instituição). Há quem pense que ele deveria dar um desconto especial, já que a instituição, teoricamente, não possui nenhum fim lucrativo. Há quem pense que trabalho é trabalho e que o valor do serviço deve ser o mesmo incondicionalmente.

Agora, vamos imaginar um individuo que se presta a fazer um trabalho voluntário para uma instituição religiosa. Há quem pense que a instituição em questão deva delegar e cobrar funções ao indivíduo em questão, tal qual um empregador faria a um empregado contratado. Há quem pense que a instituição em questão deveria mensurar a disponibilidade do indivíduo em questão para lhe atribuir tarefas que melhor se adequem às suas afinidades. Há quem pense que o indivíduo em questão deve sentir-se livre para atuar como bem quiser e quando bem quiser.

Definir conceitos como Solidariedade, Profissionalismo, Gentileza, Competência, Afinidade, Comprometimento, Determinação, Obrigação, Disponibilidade, Imposição... pode ser algo muito simples na teoria, mas na prática pode se tornar algo muito complexo e difuso.

Existe um pensamento popular que diz: "A nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros!"

Pensarmos no próximo não é apenas uma questão de ser bom e agradável para com a outra pessoa, mas principalmente tentar enxergar e ponderar a situação sob a ótica e realidade dela.

Por isso que, por mais que sejamos íntegros e éticos, devemos sempre conhecer os nossos limites. Ou seja, até onde termina a nossa liberdade. Se todos nós assim o fizermos, com certeza os nossos princípios não terão conceitos tão difusos.

(Se você leu o propósito deste blog, deve estar se questionando o que isso tem a ver. Bom, posso dizer que já vivi as situações ilustradas, em ambas posições, em uso de "hora ao som, hora à imagem".)

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